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O recente anúncio do primeiro-ministro de novos incentivos às famílias para a aquisição de painéis solares térmicos deixou duas empresas portuguesas fabricantes, a Vulcano e a Ao Sol, visivelmente satisfeitas. Isto apesar das dúvidas que a medida ainda suscita.

Aumento de vendas e um aumento de quota de mercado são a grande expectativa destas empresas para 2009, depois de José Sócrates ter anunciado que, em 2009, o Governo vai suportar metade do custo dos colectores solares, esperando um investimento total de 225 milhões de euros e a instalação dos painéis em 65 mil habitações, de modo a criar 2500 postos de trabalho.

Para Manuel Collares Pereira, administrador da Ao Sol e investigador que desenvolveu a actual tecnologia da empresa, a meta de 65 mil habitações, quando um colector ocupa quatro metros quadrados por casa, significa comprar 300 mil metros quadrados num ano. “É um número enorme”, afirma.

No ano passado, estima-se que tenham sido instalados em Portugal cerca de 60 mil novos metros quadrados de painéis solares e o montante acumulado rondará os 400 mil a 500 mil metros quadrados. “Se se fizer tudo num ano, quase duplica a área instalada e quintuplica o valor anual”, sublinha o mesmo especialista.

Para além da Vulcano e da Ao Sol,que poderá ter nesta medida uma ajuda para sair da crise em que se encontra, o grupo de fabricantes nacionais destes equipamentos completa-se com a Martifer Solar, que se mantém silenciosa. Espera-se também que as dezenas de importadores no mercado reajam também à medida.

Entretanto, dados importantes vão sendo divulgados, como o facto de o consumidor ter sempre de recorrer a um banco para comprar o colector, compre a pronto ou a crédito.

O Ministério das Finanças respondeu ao PÚBLICO, que “quer haja recurso ao crédito, quer não haja, haverá sempre comparticipação do Estado”, mas para esta ser concedida “terá sempre que haver um contacto com os bancos, pois são estes que informam o Estado que estão reunidas as condições para a comparticipação”.

Quanto ao benefício fiscal, em sede de IRS, de 30 por cento para a compra destes equipamentos, que já vigora, passará a incidir “apenas sobre o custo efectivamente suportado pelo cliente, isto é, após a comparticipação”, esclarece as Finanças.

Até agora não houve qualquer indicação oficial, mas o mercado já especula se, a seguir à obrigatoriedade de recurso à banca, a comparticipação será restringida a alguns tipos de colectores solares.

CGD, Millenium BCP e BES foram dados como os bancos associados para esta medida.

Contas da Vulcano

Com as medidas anunciadas, a Vulcano, com sede em Aveiro, prevê, caso seja uma das empresas fornecedoras, aumentar a quota de mercado de 15 para 20 por cento e atingir um volume de vendas adicional de 15 milhões de euros, numa facturação que no ano passado rondou os 230 milhões de euros.

“Mas tudo depende da procura de colectores solares”, salienta Alexandre da Silva, director de comunicação da empresa. Desde Abril de 2007, a Vulcano fabrica colectores solares e, neste momento, assume-se como líder de mercado.

No ano passado, fabricou 155.000 colectores, o que equivale a 160.000 metros quadrados. Com as medidas governamentais, a Vulcano está preparada para atingir a sua capacidade instalada, ou seja, 350.000 colectores, isto é, 360.000 metros quadrados. Neste momento, 40 dos 1100 funcionários da empresa estão afectos à produção dos colectores solares.

A Vulcano está satisfeita com o anúncio de José Sócrates. “Tem um impacto no desenvolvimento da procura e na mão-de-obra, permite manter ou criar cerca de 2.000 postos de trabalho”, realça Alexandre da Silva.

O responsável garante que o equipamento produzido pela Vulcano é competitivo em termos da relação entre qualidade e preço. “Sob o ponto de vista da qualidade é inquestionável, temos um equipamento excelente e, ao fim de ano e meio de fabrico de colectores, já vendemos para 14 países e somos líderes de mercado”, justifica.

Neste momento, a Vulcano produz colectores solares para 14 países da Europa, norte de África e América Latina. Em Portugal, é vendido cerca de 12 por cento do que é produzido. A portuguesa Ao Sol e a australiana Solahart são os principais concorrentes da Vulcano.

A Ao Sol, do grupo Enerpura (ligado ao ex-presidente da Somague e hoje presidente da Privado holding, Diogo Vaz Guedes), tem uma unidade fabril no parque industrial de Porto Alto, em Samora Correia, dimensionada para 30 postos de trabalho, e sobre a qual são relatados problemas recentes de laboração. A empresa estima a sua quota de mercado em 15 por cento, com mais de metade das suas vendas para grandes sistemas, como o aquecimento de piscinas e hotéis.

Embora se considere que os equipamentos portugueses são competitivos em termos de qualidade, o facto de o mercado ser pequeno, não permite competir com grandes quantidades, logo, com preços mais baixos, com os grandes “colossos” europeus como a Green One Tech, que produz anualmente 750 mil metros quadrados de colectores.

Na expectativa de que as famílias venham a aderir à medida governamental, um grande impacto deverá sentir-se junto das empresas instaladoras.

De acordo com o chefe do Governo, as famílias terão um “triplo benefício”: pagam metade, consomem menos e mantêm o benefício fiscal de 30 por cento.

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