Energia eĆ³lica impactos e competitividade

Parque eĆ³lico - Energia EĆ³lica

ResistĆŖncia Ć s ventoinhas gigantes em cada monte de Portugal

A energia eĆ³lica Ć© uma energia limpa e barata para a produĆ§Ć£o de electricidade. Para alĆ©m disso reduz a nossa dependĆŖncia de combustĆ­veis fĆ³sseis que sĆ£o importados e contribui para a reduĆ§Ć£o de gases de efeito estufa e outros efeitos adversos de poluiĆ§Ć£o.

E os diversos governos dos paĆ­ses europeus e a prĆ³pria UniĆ£o Europeia promovem e incentivam empresas para a construĆ§Ć£o de parques eĆ³licos, apoiando as iniciativas com generosos subsĆ­dios e enquadramento legislativo favorĆ”vel. Todas estas afirmaƧƵes, lugares comuns, quando se trata de energia eĆ³lica, estĆ£o gradualmente a serem questionadas.

Uma pequena pesquisa que pode ser efectuada na Internet revela que o impacto da energia eĆ³lica no ambiente estĆ” longe de ser benigno e o dinheiro investido nessas iniciativas estĆ” longe de ter a sua eficiĆŖncia.

Um dos problemas mais importantes relacionado com a energia eĆ³lica Ć© o da intermitĆŖncia do vento. A rede elĆ©ctrica tem que ajustar-se continuamente ao fornecimento e Ć  procura, para manter a “pressĆ£o” (isto Ć© a voltagem) constante no sistema. Quando a procura aumenta o fornecimento tem que aumentar necessariamente e quando a procura baixa o fornecimento tem que tambĆ©m baixar.

Mas as turbinas eĆ³licas. como reagem ao vento e nĆ£o Ć s necessidades da procura, tem que ser consideradas como uma procura variĆ”vel e nĆ£o como um fornecedor seguro. A rede elĆ©ctrica tem que ajustar assim o fornecimento tanto em funĆ§Ć£o das flutuaƧƵes do vento como Ć s variaƧƵes da procura.

Uma coisa, porĆ©m, Ć© a intermitĆŖncia do vento, outra a sua variabilidade. Enquanto a variabilidade implica uma flutuaĆ§Ć£o em torno de uma certa linha bĆ”sica (como a variaĆ§Ć£o da procura de electricidade ao longo do dia), a intermitĆŖncia implica algo que frequentemente comeƧa e para. A energia eĆ³lica Ć© portanto tanto intermitente como variĆ”vel.

Em relaĆ§Ć£o Ć  “verdade” de que a energia eĆ³lica contribui para a reduĆ§Ć£o de gases de efeito estufa, nĆ£o existe uma evidĆŖncia que as turbinas eĆ³licas contribuam para uma poupanƧa do CO2.

A fonte energĆ©tica que a energia eĆ³lica poderia eventualmente substituir Ć© a energia hĆ­drica (que tambĆ©m Ć© renovĆ”vel), e esta jĆ” Ć© livre de emissƵes de CO2. As outras energias convencionais nĆ£o podem ser simplesmente desligadas e substituĆ­das pela energia eĆ³lica, por esta ser intermitente e variĆ”vel, pelo que nĆ£o existe neste caso uma poupanƧa de CO2.

O sucesso da energia eĆ³lica nos paĆ­ses como Alemanha ou Dinamarca Ć© merecedora de um debate sĆ©rio, jĆ” que nenhum destes paĆ­ses conseguiu reduzir a utilizaĆ§Ć£o de outras fontes energĆ©ticas ou a emissĆ£o dos gases de efeito estufa em consequĆŖncia da utilizaĆ§Ć£o da energia eĆ³lica.

Na Dinamarca, a produĆ§Ć£o da energia eĆ³lica corresponde a 20% da energia utilizada no paĆ­s. SĆ³ que grande parte dessa energia eĆ³lica Ć© exportada para a SuĆ©cia e a Noruega onde Ć© utilizada nas bombas hidrĆ”ulicas.

Para alĆ©m disso, grande parte dos parques eĆ³licos dinamarqueses sĆ£o propriedade das comunidades locais, pelo que, enquanto esses parques sĆ£o uma fonte de rendimento para essas comunidades, torna-se difĆ­cil para os seus proprietĆ”rios crerem que nĆ£o estĆ£o contribuindo para a produĆ§Ć£o (diga-se “consumo”) desse tipo de energia. Mesmo assim, nos Ćŗltimos anos tem-se verificado um significativo decrĆ©scimo na construĆ§Ć£o de parques eĆ³licos onshore na Dinamarca.

A energia eĆ³lica Ć© barata? A construĆ§Ć£o de um parque eĆ³lico industrial custa cerca de um milhĆ£o de euros por MW de capacidade. O vento pode ser de borla, mas as torres e as turbinas eĆ³licas tem que ser construĆ­das e mantidas. Para alĆ©m do que as infraestruturas de transmissĆ£o, necessĆ”rias para o seu apoio, tambĆ©m tĆŖm os seus custos.

Para suportar todos esses custos os governos retiram do bolso do contribuinte o dinheiro necessĆ”rio para pagar a electricidade gerada pelas turbinas eĆ³licas, porque caso contrĆ”rio a energia eĆ³lica nĆ£o Ć© competitiva.

Mas entĆ£o porque Ć© que as organizaƧƵes ambientalistas sĆ£o defensoras tĆ£o acĆ©rrimas da energia eĆ³lica? Simplesmente porque acreditam nos seus supostos benefĆ­cios.

Ɖ uma espĆ©cie de conforto espiritual crer que existe uma fonte de electricidade benigna que serve para remediar os nossos problemas energĆ©ticos. E como a esmagadora maioria de pessoas nĆ£o foi propriamente ameaƧada pessoalmente pelo desenvolvimento da energia eĆ³lica, existe pouca propensĆ£o pĆŗblica para questionar essa crenƧa, uma crenƧa que Ć© ainda mais reforƧada pelo facto de os governos serem compelidos para a reduĆ§Ć£o das importaƧƵes de combustĆ­veis ou das emissƵes de CO2.

Para alĆ©m disso, a grande dimensĆ£o das turbinas eĆ³licas industriais tornou-as poderosos Ć­cones, em termos de simbologia de desenvolvimento, no imaginĆ”rio popular. Os grupos ambientalistas encontram-se assim entalados numa posiĆ§Ć£o pouco agradĆ”vel de, por um lado terem que apoiar nesta matĆ©ria os governos e por outro apoiarem a indĆŗstria de energia eĆ³lica (geralmente grandes oligopĆ³lios energĆ©ticos), sublimando assim as “inverdades” da energia eĆ³lica.

AgressƵes ambientais, e nĆ£o sĆ³, da energia eĆ³lica

As modernas turbinas eĆ³licas tĆŖm, em geral, um baixo nĆ­vel de rotaƧƵes. Mas mesmo assim as suas 10-20 rpm nas extremidades das pĆ”s, dependendo do modelo, tĆŖm um impacto significativo nos pĆ”ssaros e nos morcegos. Esse risco varia, claro, segundo as regiƵes e as zonas. As aves canoras migram geralmente durante a noite e Ć  baixa altitude, correndo assim sĆ©rios riscos de chocarem com as pĆ”s.

Os responsĆ”veis pelas turbinas eĆ³licas industriais tentam justificar esta ameaƧa aos pĆ”ssaros explicando que na realidade eles salvam muitos mais pĆ”ssaros pelo facto de limparem o ar impedindo assim o aquecimento global. O que Ć© errado jĆ” que a energia eĆ³lica nĆ£o substitui outras fontes de electricidade.

Num estudo elaborado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) afirma-se que os impactes que mais tĆŖm interessado o pĆŗblico em geral sĆ£o a perturbaĆ§Ć£o e o efeito de barreira causados pelos aerogeradores sobre as diversas espĆ©cies de aves e a mortalidade destas e de morcegos, devido Ć  colisĆ£o com as pĆ”s e outras estruturas associadas. Assim, por exemplo, no parque eĆ³lico de Fonte dos Monteiros (Vila do Bispo) foi estimada uma mortalidade de 55,77 – 94,56 aves/ano.

Existem numerosos estudos que revelam por outro lado que o valor das propriedades que circundam um parque eĆ³lico baixa significativamente de valor (cerca de 15%) nos primeiros dois anos apĆ³s a construĆ§Ć£o do parque, estabilizando-se depois este preƧo. O que significa que essas propriedades perdem de valor com a vizinhanƧa dos parques.

Para alĆ©m do ruĆ­do e das vibraƧƵes, as torres eĆ³licas industriais estorvam significativamente o valor paisagĆ­stico de uma regiĆ£o. Adicionalmente o piscar das lĆ¢mpadas de aviso existentes no seu topo perturbam a paisagem mesmo durante a noite.

Jochen Flasbarth, do MinistĆ©rio do Ambiente alemĆ£o e antigo presidente da organizaĆ§Ć£o ambientalista NABU (Naturschutzbund Deutschland e.V). chamou por diversas vezes Ć  atenĆ§Ć£o do problema da conflitualidade emergente entre a energia eĆ³lica e a protecĆ§Ć£o da natureza, particularmente nos aspectos de estĆ©tica paisagĆ­stica e da protecĆ§Ć£o das aves.

Zona livre de parques eĆ³licos (ZOLPE)

Os protestos em Portugal em relaĆ§Ć£o Ć  energia eĆ³lica tĆŖm sido tĆ­bios mas vĆ£o-se avolumando cada vez mais. A maioria prende-se com os impactes visuais negativos e a incidĆŖncia na protecĆ§Ć£o da natureza. Como os parques eĆ³licos em Portugal encontram-se localizados normalmente em Ć”reas rurais e Ć”reas de montanha ou costeiras, estas Ć”reas incluem muitas vezes habitates importantes para a conservaĆ§Ć£o da natureza, alguns com elevada sensibilidade ambiental.

Regra geral, os prĆ³prios Estudos de Impacte Ambiental (EIA) que antecedem a instalaĆ§Ć£o dos parques eĆ³licos, enumeram os impactes negativos das instalaƧƵes, mas tentam relativizar esses impactes com expressƵes de carĆ”cter dubioso.

A citaĆ§Ć£o de um EIA, que se segue, revela esta metodologia de branqueamento dos impactes negativos dos parques eĆ³licos. “Com a aplicaĆ§Ć£o de medidas minimizadoras, nĆ£o haverĆ” efeitos negativos graves sobre o ambiente. PoderĆ” existir perturbaĆ§Ć£o sobre a avifauna e morcegos existentes na zona, pelo funcionamento dos aerogeradores.

Os restantes animais, segundo mostra a experiĆŖncia, adaptam-se, acostumando-se ao ruĆ­do. Relativamente aos acidentes de colisĆ£o com os aerogeradores, sĆ£o em nĆŗmero muito reduzido.

Negativo Ć© o impacte visual na paisagem, com a presenƧa dos aerogeradores. pelo que se recorrerĆ” Ć  sua pintura com tintas sem brilho e revestimento do edifĆ­cio de comando com material adequado, de modo a permitir a sua integraĆ§Ć£o paisagĆ­stica. “

As resistĆŖncias a nĆ­vel local vĆ£o-se multiplicando. Segundo o Jornal do Nordeste a proposta inicial do Plano de Ordenamento do Parque Natural de Montesinho nĆ£o ia permitir a instalaĆ§Ć£o de um parque eĆ³lico na serra de Montesinho, onde as pessoas comentavam que “essas torres desvirtuam a paisagem e o barulho das pĆ”s a cortar o vento nĆ£o Ć© propriamente mĆŗsica para os nossos ouvidos” JoĆ£o PeƧas Lopes, coordenador-adjunto da Unidade de Sistemas de Energia (USE) do INESC Porto, presidente do JĆŗri do Concurso Internacional para AtribuiĆ§Ć£o de 1500 MW de ProduĆ§Ć£o EĆ³lica em Portugal, afirmava em entrevista: “SĆ£o evidentes as vantagens da energia eĆ³lica em termos ecolĆ³gicos, embora haja ecologistas que estĆ£o contra a instalaĆ§Ć£o das torres eĆ³licas, devido ao impacto visual.

HĆ” ainda o impacto em termos de ruĆ­do e hĆ” um impacto na vida animal, como por exemplo, pĆ”ssaros que ficam perturbados com o barulho das turbinas…. Mas Ć© um preƧo a pagar”.

A intenĆ§Ć£o de instalaĆ§Ć£o de um parque eĆ³lico na Serra d’Arga foi contestada por moradores da freguesia da Montaria, Viana do Castelo, que temiam pelo impacto visual e paisagĆ­stico das “ventoinhas gigantes”. “Que ninguĆ©m venha depois chorar por se ter permitido tal atentado”, referia um morador ao Ā«O Primeiro de JaneiroĀ».

Devagarinho, essa oposiĆ§Ć£o chega mesmo aos responsĆ”veis polĆ­ticos ao nĆ­vel local. Em Caldas de Rainha os vereadores JoĆ£o Aboim, do PSD, e AntĆ³nio Galamba e Nicolau Borges, do PS, opuseram-se a uma fase preliminar de construĆ§Ć£o de parque eĆ³lico tendo declarado que “por princĆ­pio, votamos contra a instalaĆ§Ć£o de parques eĆ³licos em qualquer zona da orla costeira”.

Recentemente um abaixo-assinado, que foi sufragado por oitenta por cento da populaĆ§Ć£o da Igreja Nova, no concelho de Mafra, exigia a reformulaĆ§Ć£o do plano eĆ³lico para a regiĆ£o de Mafra manifestando-se contra a construĆ§Ć£o do parque eĆ³lico do FaiĆ£o, na freguesia da Terrugem, por os aerogeradores encontrarem-se praticamente no meio das casas.

A luta contra a construĆ§Ć£o das turbinas eĆ³licas industriais tem tido cada vez mais sucesso em diversas partes do mundo, desde os Estados Unidos Ć  AustrĆ”lia. Em Janeiro deste ano, na Alemanha, a populaĆ§Ć£o de Bieswang (no Landkreis WeĆ­Benburg-Gunzenhausen) conseguiu, depois de uma dura luta de dois anos, levar a que a (M empresa WindwĆ¢rts desistisse da construĆ§Ć£o de um parque eĆ³lico na localidade.

E neste mĆŖs de Abril esperava-se que a populaĆ§Ć£o das freguesias de Hausbay, Laudert, Maisborn e Pfalzfeld, na regiĆ£o de HunsriickhƵhe, tambĆ©m na Alemanha, conseguisse impedir a construĆ§Ć£o de parques nesta regiĆ£o. Os habitantes lutam para que esta regiĆ£o do Reno nĆ£o perca a sua beleza paisagĆ­stica, considerando que a construĆ§Ć£o de parques eĆ³licos representa uma violaĆ§Ć£o da paisagem natural.

A populaĆ§Ć£o destas aldeias alemĆ£s vai criar nesta regiĆ£o uma zona onde nĆ£o serĆ” permitida a construĆ§Ć£o de parques eĆ³licos (‘Windradfreie HunsriickhƵhe’). A semelhanƧa de zonas livres da energia nuclear surgiria assim uma ZOLPE (Zona Livre de Parques EĆ³licos).

2 ComentĆ”rios em “Energia eĆ³lica impactos e competitividade”

  1. ParabĆ©ns pelo artigo! Temos poucos textos bons sobre o assunto aqui no Brasil. E justamente agora que hĆ” uma grande discussĆ£o no paĆ­s a respeito da construĆ§Ć£o de uma nova hidrelĆ©trica na regiĆ£o Norte, informaƧƵes sobre energia eĆ³lica e solar sĆ£o mais que bem-vindas [sobretudo em PortuguĆŖs].

  2. Caro, vou tentar nĆ£o ser muito agressivo, nunca antes tinha lido tĆ£o grnade disparate.
    Ɖ obvio que hĆ” alguns pontos menos positivos na construĆ§Ć£o de um parque eĆ³lico, por isso hĆ” um conjunto de passos que devem de ser dados para conseguir uma aprovaĆ§Ć£o.
    Relativamente Ć  frase, “os PE nĆ£o reduzem as emissƵes de CO2”, sĆ³ para introduzir alguma luz, como Ć© obvio, os PE nĆ£o podem autonomamente alimentar um pais nem tao pouco uma cidade, quanto Ć  energia que substituem, dizer que sĆ³ poderiam subtituir as hidricas Ć© errado. Associado Ć  energia hidrica, que permite armazenar energia e fornecer-la Ć  rede quando necessĆ”ria, consgue-se ter um sistema mais estĆ”val que poderĆ” colmatar a fragilidade da flutuabilidade da Energia eĆ³lica.
    Como Ć© obvio Ć© uma questĆ£o de proporƧƵes, e tambĆ©m de zonas de vento, o do quanto abrangentes pelo pais sĆ£o os parques eĆ³licos, e tambĆ©m de como Ć© gerida a sua produĆ§Ć£o.
    Lamento nĆ£o ter tempo para desenvolver mais, mas antes de azer afirmaƧƵes deste genero, informe-se, nĆ£o Ć© bonito cometer gafes tĆ£o grandes.

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