Graças a bactérias fermentativas especiais, pode-se produzir hidrogénio “limpo” a partir do lixo orgânico presente em águas residuais. Esta foi uma descoberta da Universidade de Wageningen, na Holanda.
A descoberta da universidade holandesa faz com que o sonhado modelo da “economia do hidrogénio”, mencionado como a solução para o fim do efeito estufa e da poluição produzida por fontes de energia não-renováveis, esteja mais próximo de se tornar realidade.
As pesquisas estão sendo custeadas pela multinacional Shell, entre outras empresas.
O hidrogénio “limpo” demonstra ser o combustível ideal para que a sociedade fique livre do poluente dióxido de carbono. Uma célula de hidrogénio pode gerar energia eléctrica que, por sua vez, alimenta o motor dos automóveis.
Com este novo tipo de combustível, os automóveis expelirão, através de seus escapamentos, um pouco de vapor de água, tão puro que, em princípio, poderia até ser ingerido.
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Contradições
Esta seria uma imagem idílica do futuro. Até o momento, ela estava limitada aos filmes de ficção. A justificativa é de que, em primeiro lugar, o hidrogénio só pode ser armazenado sob pressões altíssimas, o que dificulta o seu transporte.
Em segundo lugar, o hidrogénio como combustível seria empregado para a redução das emissões de dióxido de carbono no trânsito e na indústria, o que demandaria seu armazenamento e transporte a longas distâncias.
Este dilema foi descrito por Cees Buisman, catedrático em Tecnologia Ambiental da Universidade de Wageningen. ” Na realidade, não existe uma tecnologia para confirmar a produção em grande escala de hidrogénio ‘limpo’, o que significa que, até o momento, ele precisa ser produzido por meio de hidrocarburetos de origem fóssil.
Esse processo acaba produzindo uma carga ainda maior de dióxido de carbono na atmosfera do que a exalada pelos escapamento dos veículos”, explica Buisman.
A pesquisa científica “Produção Biológica de Hidrogénio”, publicada em 2006 pelo professor Agenor Furigo Júnior, da Universidade Federal de Santa Catarina, já adiantava o problema: “Para que o hidrogénio se torne uma fonte de energia verdadeiramente sustentável, deve-se promover a produção a partir de fontes de energia renováveis”, recomenda Furigo Júnior.
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Solução
Mas com a descoberta da universidade holandesa de Wageningen, o problema parece ter sido resolvido. René Rozendal, colaborador de Cees Buisman, descobriu uma maneira de produzir hidrogénio a partir de águas residuais orgânicas. Trata-se de uma tecnologia que oferece boas perspectivas e já está em processo de ser patenteada.
De acordo com o professor Buisman, que orientou a pesquisa, a descoberta foi feita por acaso, quando se pesquisava a possibilidade de produzir corrente eléctrica por meio de bactérias.
Para isso, estavam sendo usados micróbios especiais, encontrados nas sujidades dos materiais orgânicos de águas residuais. Num determinado momento, Rozendal percebeu que tinha produzido electrões e protões, cuja combinação constitui o princípio básico para a produção de hidrogénio.
“Nessa etapa dos experimentos, Rozendal teve a brilhante ideia de inverter o princípio. Ele colocou corrente eléctrica na água residual, juntamente com as mesmas bactérias, que, em um determinado momento, começaram a produzir espontaneamente hidrogénio”, lembra Buisman.
Os pesquisadores acreditam que, uma vez desenvolvida, a nova tecnologia poderá produzir hidrogénio sem poluir o ambiente, por meio de fontes de energias renováveis.
René Rozendal dedicou grande parte de sua tese para desenhar a possível aplicação prática, em grande escala, para a produção de hidrogénio “limpo”. Especula-se na Holanda o uso do novo combustível em 20% da frota de veículos da Holanda.